EUA são o caminho óbvio para o avanço tecnológico do Brasil, afirma Paulo Gala no LIDE Brazil Investment Forum
Economista da FGV destaca que exportações de alto valor agregado e investimentos americanos impulsionam o desenvolvimento brasileiro.
Paulo Gala, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), reforçou a importância da relação comercial entre Brasil e EUA. (Foto: Vanessa Carvalho/LIDE)
Durante a 14ª edição do LIDE Brazil Investment Forum, realizada em Nova York, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), Paulo Gala, destacou o papel estratégico dos Estados Unidos como parceiro econômico fundamental para o Brasil. Em sua fala, Gala comparou as relações comerciais brasileiras com EUA e China, enfatizando a importância do mercado americano no desenvolvimento de setores de alta tecnologia.
“Os Estados Unidos continuam sendo o parceiro mais importante do Brasil. Nesses 40 bilhões de dólares que a gente exporta para os Estados Unidos, está a maioria do conteúdo tecnológico brasileiro”, afirmou. “Mais de 20%, quase 25% de tudo que o Brasil exporta de alto conteúdo tecnológico, de ciência e tecnologia, vai para os Estados Unidos.”
O economista lembrou exemplos concretos, como a atuação da Embraer no mercado americano, incluindo a presença do Super Tucano na Força Aérea dos EUA e o potencial do cargueiro KC-390. Para ele, essa parceria ilustra a capacidade brasileira de avançar em ciência, tecnologia e produção de bens com alto valor agregado.
“Diferentemente da China, em que exportamos praticamente apenas minério de ferro, soja e petróleo, para os Estados Unidos exportamos aço, celulose, aviões, tecnologia genuinamente brasileira”, destacou.
EUA concentram metade dos investimentos estrangeiros no Brasil
Além das exportações, Gala ressaltou o peso dos investimentos americanos na economia brasileira. Segundo dados do Banco Central citados por ele, dos mais de US$ 1 trilhão em capital estrangeiro investido no Brasil, cerca de US$ 500 bilhões são de origem americana.
“Os Estados Unidos são o grande investidor do Brasil quando olhamos países individualmente”, disse. “Com uma economia de quase US$ 70 mil de renda per capita por ano, os Estados Unidos oferecem um mercado muito mais interessante para produtos de alto valor adicionado do que a China, cuja renda per capita é de cerca de US$ 15 mil.”
Déficit de valor adicionado e o desafio do Brasil
Ao traçar um panorama histórico, Gala lembrou que, em 1800, a renda per capita brasileira era 50% da americana, enquanto hoje representa apenas um sexto. Ele atribuiu essa defasagem à incapacidade do Brasil de desenvolver um parque industrial e tecnológico robusto.
“Infelizmente, o Brasil patinou no quesito aumento de valor adicionado. Não conseguimos desenvolver um parque industrial suficiente para competir globalmente com mercadorias de alto valor agregado”, observou.
Mesmo reconhecendo a importância do mercado chinês para commodities brasileiras, o economista foi enfático ao defender que o futuro do Brasil no desenvolvimento tecnológico passa necessariamente pela parceria com os Estados Unidos.
“Para um Brasil com apenas US$ 10 mil de renda per capita, os Estados Unidos são o caminho óbvio para aumento de desenvolvimento tecnológico e produção de bens de alto conteúdo econômico”, concluiu.