'Energia solar fotovoltaica se posiciona como a tecnologia mais viável para atender o crescimento de demanda'

“Transporte Eficiente e Sustentável” prevê cerca de 300 empreendimentos com aportes que devem alcançar quase R$ 350 bilhões, entre recursos públicos e privados.

Rodolfo_Meyer_OficialRodolfo Meyer, CEO do Portal Solar. (Foto: Divulgação)

O volume de investimentos do Novo PAC deve chegar a R$ 1,7 trilhão nos próximos anos, a serem destinados a projetos de nove grandes eixos de atuação. Um deles é o “Transporte Eficiente e Sustentável”, que prevê cerca de 300 empreendimentos com aportes que devem alcançar quase R$ 350 bilhões, entre recursos públicos e privados.

Além da construção de novas rodovias, os recursos preveem a manutenção da malha rodoviária em todos os estados, e investimento também em hidrovias, portos e aeroportos. “As rodovias representam 53% dos investimentos previstos, ao passo que as hidrovias, somente 1,14%.

Os percentuais equivalem mais ou menos às participações de cada um dos modais no transporte de cargas no Brasil, o que, a princípio, poderia fazer sentido. Mas temos de considerar que outros modais não são mais utilizados justamente por falta de infraestrutura adequada”, comenta Pierre Jacquin, vice-presidente para a América Latina na project44.

Jacquin lembra que diversos países com grandes extensões territoriais investiram, ao longo do tempo, em malha ferroviária robusta. “Os Estados Unidos têm cerca de 150 mil quilômetros de ferrovias. A China, mais de 100 mil quilômetros. A Rússia, 85 mil. A Índia, 68 mil. Por sua vez, o Brasil, embora seja a quinta maior nação do mundo em área, possui apenas 28 mil quilômetros de trilhos instalados, com apenas 12 mil utilizados no transporte de cargas”, ilustra.

“O Brasil, com suas dimensões continentais e sua diversidade geomorfológica, abriga uma capacidade imensa para o desenvolvimento da malha logística. Além das ferrovias, a navegação interior, atualmente explorada em apenas um terço do seu potencial, e a cabotagem trazem possibilidades fantásticas para dinamizar os transportes no país, abrindo caminho para uma realidade multimodal capaz de reduzir os custos logísticos no mercado interno. Esperamos que esse potencial seja explorado e que norteie cada vez mais as políticas públicas relacionadas à infraestrutura”, acrescenta.

Nova energia

Estudo inédito desenvolvido pelo Portal Solar, indica que a demanda extra por energia elétrica no Brasil, decorrente da eletrificação da frota de veículos e da produção de hidrogênio verde, deve movimentar o mercado nacional em cerca de R$ 2,2 trilhões até 2050.

O relatório aponta que a energia solar deve ser protagonista nesse cenário de demanda adicional que virá nas próximas três décadas, oriundo da descarbonização das economias, tendo a necessidade de adicionar cerca de 540 GW em sistemas fotovoltaicos, sejam centralizados e distribuídos, bem como a aplicação de baterias para armazenamento energético.

“Em razão de exigências ambientais, custos de investimentos e possibilidade de geração elétrica próxima ou junto ao local de consumo, a energia solar fotovoltaica se posiciona, portanto, como a tecnologia mais viável para atender esse crescimento de demanda”, explica Rodolfo Meyer, CEO do Portal Solar.

Hidrogênio verde

O estudo do Portal Solar destaca ainda que a demanda de energia no Brasil irá aumentar por uma série de outros fatores além eletrificação da frota de veículos, entre eles o crescimento do PIB, a eletrificação de outros setores, como a indústria, e a “nova onda” mundial do hidrogênio verde.

Segundo relatório publicado pela McKinsey, o Brasil pode se tornar um dos líderes mundiais na produção de hidrogênio verde dado seu potencial de energia eólica e solar abundante, um sistema elétrico integrado e de baixo carbono e uma posição geográfica vantajosa para alcançar a Europa e a costa leste norte-americana, além de uma relevante indústria doméstica.

Se o Brasil quiser atender 10% dessa demanda, teria que instalar 268 GW adicionais de projetos renováveis para a produção de hidrogênio verde e seus derivados nos próximos 27 anos. Este cenário desconsidera a necessidade de investimento para servir ao mercado doméstico – em particular o transporte de carga por caminhões, a siderurgia e outros usos energéticos industriais.

Mercado

O hidrogênio de baixo carbono (LC H2) tem emergido como uma solução promissora com potencial de revolucionar a indústria de energia e desempenhar um papel crucial na transição para um futuro mais verde, além de despontar como uma alternativa inovadora em setores como indústria, transportes e construção. Apresentado no Brazil Climate Summit 2023, o estudo “Unleashing Brazil's Low Carbon Hydrogen Potential”, desenvolvido pelo Boston Consulting Group (BCG), mostra o potencial do Brasil nesta corrida global e estima que o país pode capturar cerca de 10 a 15% das exportações globais (mais de 10 milhões de toneladas) até 2030, principalmente para a Europa.

“O Brasil já produz energia limpa de baixo custo e tem potencial de escalabilidade. Nossa matriz conta com uma rede interconectada que permite uma maior e melhor utilização em conformidade com as regras da União Europeia, e ainda tem cerca de 92% do Sistema Interligado Nacional (SIN) abastecido por fontes limpas de energia. É por isso que já podemos iniciar essa corrida em busca da produção de hidrogênio de baixo carbono à frente de diversos outros países”, afirma Arthur Ramos, diretor-executivo e sócio do BCG e líder da prática de Clima e Sustentabilidade no Brasil.

Paralelamente, os setores que estão iniciando sua jornada de redução de carbono ainda apresentam um alto potencial de demanda que poderia ajudar a ativar a produção local. Na área de transportes de longa distância, por exemplo, uso dos combustíveis com menor pegada de carbono são uma alavanca fundamental para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa (GEE), mesmo considerando as necessidades de evolução das malhas aérea, ferroviária, naval e viária.

No agronegócio, o Brasil é hoje um grande importador de fertilizantes e o hidrogênio com baixa emissão de carbono pode contribuir para reverter essa tendência. A produção de fertilizantes a partir de uma amônia mais sustentável pode desempenhar um papel significativo no desenvolvimento de uma indústria local competitiva.