Rubens Sardenberg: 'A estabilidade das projeções reflete a melhora no desempenho do crédito nos últimos meses'

Governo e organizações financeiras e de fomento têm feito sua parte e promovido uma série de medidas para impulsionar o crédito nos mais diferentes setores.

Febraban2Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban. (Foto: Divulgação)

A projeção feita pelos bancos para a expansão da carteira de crédito neste ano se manteve estável em 7,6%, mostra um levantamento da Febraban. O resultado ficou um pouco acima da expansão esperada pelo Banco Central, de 7,3%, segundo o último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em setembro. Já para 2024, a estimativa de alta passou de 7,9% para 8,1%.

“A estabilidade das projeções reflete a melhora no desempenho do crédito nos últimos meses. Apesar de continuarmos observando uma desaceleração no ritmo de expansão anual da carteira, os dados têm trazido sinais positivos, como a queda das taxas de juros e a estabilidade da inadimplência”, analisa Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban.

Ao trabalho

Governo e organizações financeiras e de fomento têm feito sua parte e promovido uma série de medidas para impulsionar o crédito nos mais diferentes setores. Um exemplo é o apoio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como banco dos Brics – bloco formado por países como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – na oferta de financiamentos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Um empréstimo de US$ 1 bilhão será aportado no Programa Emergencial de Acesso a Crédito (FGI PEAC), que garante as operações de crédito concedidas aos empreendedores de micro, pequenas e médias empresas do país, ampliando o acesso ao financiamento nas instituições financeiras conveniadas.

“É uma importante opção para os pequenos negócios, que ainda enfrentam muitas dificuldades de acesso a crédito. O empréstimo foi solicitado pelo presidente Lula e recebeu aval do Senado. O pagamento deverá ser feito em 30 anos, com juros de 1,64% ao ano”, destaca o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima, citando dados do Banco Central.

Lima destaca alguns aspectos do ambiente de negócios que ainda precisam melhorar, “o volume da burocracia, a exigência de garantias e as altas taxas de juros funcionam como barreira que dificulta a vida das micro e pequenas empresas. Nesse contexto, os recursos direcionados para o FGI-PEAC vão ajudar as empresas brasileiras a impulsionarem os seus negócios e, consequentemente, permitir a manutenção do emprego e da renda”, afirma.

Análise

Indicador de Demanda das Empresas por Crédito da Serasa Experian revelou que, em setembro, a procura por recurso financeiro teve crescimento de 9,8% na comparação com o mesmo mês de 2022. Este foi o segundo mês seguido de altas expressivas. Na visão por porte das empresas, as “Grandes” puxaram o aumento (10,5%), seguidas, acirradamente, pelas “Micro e Pequenas” (MPEs) (10,0%).

“O valor otimista sugere que, apesar de ainda não ter surtido efeito na demanda dos consumidores por crédito, a redução da taxa Selic e da inflação no país está proporcionando um maior ânimo às empresas na busca por financiamento nos mercados financeiros. Possuir recursos monetários para manter liquidez e honrar compromissos com seus provedores é de suma importância para a sobrevivência e operação das empresas”, explica o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Capital estrangeiro

Recentemente, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançou o “BID para as Américas”, um novo programa para fortalecer e aumentar os laços econômicos entre os Estados Unidos e a América Latina e o Caribe. Como a maior fonte de financiamento multilateral na região, o programa do BID estará centrado em três pilares: compras públicas, comércio e investimento e financiamento, o que poderá atrair novos recursos para o Brasil e ampliar a geração de emprego e renda.

"Os Estados Unidos são um parceiro fundamental em nossos esforços para aumentar o impacto e a escala do desenvolvimento na América Latina e no Caribe", disse o presidente do BID, Ilan Goldfajn. “O programa oferecerá às empresas norte-americanas uma plataforma única, que aproveita tecnologias inovadoras e financeiras para se expandir na América Latina e no Caribe. Com sua experiência, suas redes de contatos e seu compromisso com a transparência, a igualdade, a governabilidade e a sustentabilidade, o BID é o parceiro preferencial para o compromisso das empresas internacionais com a região", detalha.

No pilar de aquisições públicas, a iniciativa foi pensada para ajudar a aumentar em mais de US$ 4 bilhões a participação de empresas norte-americanas nos contratos públicos financiados pelo BID na região a cada ano. O programa terá como foco aumentar o alcance e o tamanho das aquisições norte-americanas nos setores de saúde, água, energia, transporte, agricultura e infraestrutura digital. Embora as empresas norte-americanas ganhem mais de 61% de todos os contratos financiados pelo BID para os quais se candidatam – a maior taxa de sucesso entre todos os países membros não mutuários –, elas tendem a concorrer a menos licitações para contratos grandes.

Em 2024, o BID também lançará o InvestAmericas, uma ferramenta tecnológica para conectar investidores (anjos, de capital de risco e de capital privado) com oportunidades de investimento (startups e empresas, com foco especial nas PMEs).

Programas

Em outro sentido, a Lei que estabelece prioridades para o governo federal nos próximos quatro anos, o Plano Plurianual (PPA) 2024–2027, prevê R$ 1,7 trilhão em crédito de bancos públicos federais. Desse total, R$ 1,5 trilhão (90,5%) concentram-se em cinco programas: moradia digna, agropecuária sustentável, reindustralização, desenvolvimento regional e agricultura familiar e agroecologia.

Em relação aos cinco principais programas, a maior parte do crédito, R$ 532 bilhões, será concedida para as ações de moradia digna. Em segundo lugar, vem a agropecuária sustentável, com R$ 404 bilhões. Completam a lista o programa de neoindustrialização, ambiente de negócios e participação econômica internacional (R$ 355 bilhões); desenvolvimento regional e ordenamento territorial (R$ 127 bilhões) e agricultura familiar e agroecologia (R$ 117 bilhões).