Alexandre Carreteiro: inflação e o aumento de preços dos insumos no Brasil são fatores que impactam no nosso valor final dos produtos

Presidente da PepsiCo Brasil Alimentos destaca a necessidade de nortear os negócios com informações estratégicas, tendências e pesquisas.

Desde 2021,  o executivo Alexandre Carreteiro lidera os negócios da multinacional no setor alimentícios, PepsiCo. (Foto: Divulgação)

O executivo brasileiro Alexandre Carreteiro tem uma trajetória de mais de duas décadas em companhias de bens de consumo e alimentos e bebidas, dentre os mercados distintos que incluem Brasil, Caribe, Europa, Ásia e América do Norte. Anteriormente, ele atuou na Nestlé, no cargo de vice-presidente Regional para América do Norte e representante CEO na Zona Américas nesta região.

Desde março de 2021, Alexandre é o presidente da PepsiCo Brasil Alimentos - este um dos 10 principais mercados da companhia (globalmente e o segundo maior na América Latina), comandando um time cerca de 11 mil funcionários distribuídos por todo o país.

Sua chegada foi marcada com a missão de tornar as operações engajadas e comprometido com o crescimento cada vez mais sustentável. Para isso ser algo tangível, a ideia foi apoiar-se no impulso à economia, intenso trabalho com o fomento da agricultura local e à inovação, apoio à diversidade, à inclusão e proximidade com as comunidades.

Mundialmente, os produtos da PepsiCo são consumidos mais de um bilhão de vezes por dia em mais de 200 países e territórios - conforme divulgado pela companhia, que registrou mais de US$ 86 bilhões em receita líquida, impulsionada pelo portfólio variado de alimentos e bebidas para diversas ocasiões. Só a marcas consideradas mais “icônicas”, por exemplo, geram mais de US$ 1 bilhão de lucro em vendas anuais estimadas no varejo. Presente no Brasil há 70 anos, a multinacional é uma referência e gera, inclusive, apelo nostálgico. Nesta entrevista, Carreteiro traz um panorama sobre o atual momento da companhia e seus principais desafios.

Revista LIDE: Há um movimento de transformação no varejo, principalmente no que se diz sobre o relacionamento com os consumidores. Como a companhia tem se posicionado diante dessas demandas?

ALEXANDRE CARRETEIRO: Temos um time focado nesse relacionamento, que é realizado por meio de diversas plataformas - desde o nosso SAC até nossas redes sociais -, mas também por meio do relacionamento “estreito” com nossos clientes, que nos fornecem muitas informações sobre para o desenvolvimento de produtos e campanhas.

Em nossa base de dados temos mais de 11 milhões de consumidores e, por meio desse volume, trabalhamos de forma segmenta- da e customizada para fazer toda a nossa comunicação de forma mais assertiva e, também, para termos insights e desenvolvermos promoções pensando no que nossos consumidores desejam. O resultado desse planejamento é que trazemos mais lealdade às marcas. Esse é o reflexo do trabalho do time de customer insights que busca observar e trazer para o nosso negócio as informações estratégicas de tendências e pesquisas, além da equipe de P&D alocado no nosso Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (em Sorocaba - SP), que realiza estudos com grupos focais para avaliação de produtos.

O nosso Centro de P&D objetiva tornar cada vez mais rápida a nossa inovação, o que nos permitiu atuarmos com muita velocidade e conseguimos trazer um novo produto ao mercado em seis meses, da ideação até o lançamento.

Como a companhia tem “conversado” com o consumidor que busca melhor preço de mercado?

Contamos com opções para diversas ocasiões de consumo e embalagens para atender a todas as necessidades, desde o consumo individual, até grandes pacotes para consumo familiar e packs promocionais que vão ter um preço mais atrativo. A inflação e o aumento de preços dos insumos no Brasil são fatores que impactam no nosso valor final dos produtos, é uma realidade, mas buscamos sempre reduzir esse repasse aos consumidores, por meio de estratégias de produção, além disso, temos a fornecedores locais. Hoje, mais de 99% das nossas matérias-primas são compradas no Brasil.

Outro trabalho que fazemos é conjuntamente com os nossos clientes do varejo, em que ela - boramos planos de exposição e promoções para trazer benefícios para todas as partes, incluindo consumidores, desde o ponto de venda físico, até o digital e com atuação regionalizada.

A PepsiCo é considerada referência em sustentabilidade. Quais as principais ações, conquistas e avanços nesse momento?

A PepsiCo tem o ESG no centro da sua estratégia de negócio, que chamamos de PepsiCo Positive (pep+). Essa agenda reúne inúmeras iniciativas e nossas metas ESG internas e externas em diversos temas, que dividimos entre Agricultura Positiva, Cadeia de Valor Positiva e Escolhas Positivas. Todas as nossas ações, resultados alcançados e as nossas metas podem ser conhecidos no nosso site: pepsico.com.br. No quadro de ações, temos a diminuição do uso de água em toda a nossa cadeia de valor, a implementação de práticas regenerativas na agricultura junto aos nossos fornecedores, iniciativas de incentivo ao empreendedorismo feminino, à equidade racial na sociedade (com o Mover), entre outras tantas. Tenho imenso orgulho das conquistas até aqui, resultados que foram possíveis graças às mais de 11 mil pessoas do nosso time nos Brasil, que estão engajadas conosco em promover essas mudanças.

Como exemplo desse nosso compromisso, internamente hoje alcançamos 25% de lideranças negras e temos a meta de atingir 30%. Além disso, 49% das posições de liderança da companhia são ocupadas por mulheres e 60% de líderes femininas quando olhamos somente o nosso C-Level. A nossa meta de equidade de gênero e racial - em 50% dos colaboradores - ambas são para 2025.

Isso foi possível, pois realizamos diversas ações e investimentos em treinamentos, mentorias, programas de desenvolvimento e inovações nos processos seletivos e, também, nos benefícios que oferecemos, como recentemente divulgamos o apoio financeiro para tratamentos de reprodução assistida (congelamento de óvulos, fertilização in vitro e outros procedimentos) para quem desejar, além de incentivar a retificação de nome e gênero para pessoas trans. Temos muito a avançar e o nosso esforço é para que consigamos cada vez mais espelhar a nossa sociedade dentro da PepsiCo com o que ela tem de melhor: a diversidade, a criatividade e a inovação, que são grandes pontos fortes para o nosso negócio.

A empresa tem investido em parceiros de vendas B2B para aumentar a sua capilaridade?

Sim, temos força de vendas com estratégia regionalizada e customizada para cada perfil de cliente que atendemos nos arredores do Brasil. E, nesse sentido, a regionalização é uma das apostas para que consigamos atingir a nossa meta de crescimento nos próximos anos, além da busca por novas rotas de mercado. Temos ações com nossos clientes para entregar uma experiência de compra para o consumidor final que seja a mais eficiente possível, tanto no canal físico, como no on-line - onde, inclusive, somos a operação número um da companhia em vendas no e-commerce na América Latina, desde 2020.

Operamos no Brasil dividindo o país em quatro macro regiões para trabalharmos, com insights regionais. De exemplo, temos produtos que foram desenvolvidos e focados no Nordeste, como é o caso do Cheetos Bola, com vendas somente no Nordeste e que agora estamos trazendo para distribuição nacional.

Qual a importância dos pequenos varejistas para a PepsiCo?

Estamos em 90% dos lares brasileiros. Muito desse resultado se dá pela nossa capilaridade de chegar ao varejo de todos os portes e em todas as regiões do país. Portanto, esse quesito tem uma importância crucial para o nosso negócio, que responde por 28% das nossas vendas líquidas. Nós entregamos inteligência de venda para esse vendedor, do mesmo modo como entregamos para o grande varejo e estamos sempre buscando formas de impulsionar o crescimento dos pequenos empreendedores.

Alexandre Carreteiro 2 (Divulgação)Em 2022, a operação da PepsiCo ganhou uma nova linha de produção para batatas na cidade de Itu, interior de São Paulo. (Foto: Divulgação)

O transporte logístico ainda é um gargalo do varejo nacional e da indústria. O que pode ser feito para melhorarmos tais dilemas?

Nossa capilaridade de vendas se deve muito ao nosso potencial logístico no Brasil. Contamos com uma das maiores frotas do setor de bens de consumo do país, com mais de 4 mil veículos - com caminhões de grande e médio porte e veículos executivos. E, hoje temos 124 dessa frota com elétricos e movimento dos a gás. A partir deste ano, toda compra que fizermos de caminhões novos para o time de vendas, 20% serão de veículos elétricos. Já, os caminhões de grande porte (frota primária), toda nova aquisição será feita de caminhões movidos a GNV.

Além disso, temos o projeto de carrocerias sustentáveis, com 100 caminhões com o baú feito de fibra contendo pet e plástico reciclado de embalagens de snacks pós-consumo. A partir de 2023, todo novo caminhão que será destinado à equipe de vendas, será implementado com carroceria sustentável, um projeto desenvolvido pelo time da PepsiCo Brasil. E todo esse investimento é importante, já que somente com a frota sustentável da PepsiCo. conseguiu reduzir cerca de 926 mil quilos de CO2 - o que corresponde ao plantio de mais de 6.480 árvores - ação que vem sendo feita desde 2020.

Porém, para avançarmos nessa agenda de uma logística mais sustentável e mais eficiente, é essencial que existam investimentos públicos em infraestrutura logística, novas legislações, linhas de crédito e parcerias público-privadas para garantir que o país consiga evoluir de forma acelerada para uma logística com matrizes energéticas mais limpas. Hoje, por exemplo, um obstáculo para ampliar o volume de veículos elétricos é a baixa presença de estações de abastecimento desses caminhões ao redor do país.

Quais as projeções e metas para 2023 nos campos: expansão, investimentos, contratações e capacitação de mão de obra?

Esperamos crescer de forma acelerada no Brasil em 2023 e nos próximos cinco anos e estamos investindo para chegar a esses resultados por meio dos lançamentos.

Em 2022, a América Latina foi a região em que a PepsiCo mais cresceu, com alta de 21% e no Brasil crescemos acima desse patamar continental. Temos nos destacado nas vendas e na categoria de salgadinhos crescemos acima do crescimento da categoria no mercado. Portanto, o país está entre os dez mercados que mais crescem globalmente para a PepsiCo e segue sendo uma praça para investimentos estratégicos.

E a nossa estratégia para 2023 em alimentos (correspondente a 90% do faturamento da companhia na América Latina), está muito puxado pelos snacks salgados que são nosso carro-chefe e onde somos líderes, foi, e seguirá sendo a de investir fortemente em inovações, trazendo uma ampla gama de novidades ao consumidor brasileiro, juntamente com a expansão e modernização do nosso pátio industrial, além da busca contínua de novos clientes e rotas de mercado em todo o país.