'Exportar via Dubai é multiplicar mercados e reduzir riscos', afirma João Paulo Paixão, da Dubai Chambers

Portos como Santos, Jebel Ali e Khalifa ganham protagonismo na conexão entre os dois mercados.

João Paulo Paixão, representante chefe da Dubai Chambers no Brasil 2João Paulo Paixão, representante-chefe da Dubai Chambers no Brasil, fala sobre como empresas brasileiras devem  expandir suas operações nos Emirados. (Foto: Divulgação)

O comércio entre Brasil e Emirados Árabes Unidos (EAU) vem ganhando relevância estratégica. Em 2024, as exportações brasileiras para a Liga Árabe alcançaram US$ 23 bilhões, com os EAU respondendo por US$ 4,5 bilhões — um crescimento de mais de 40% em relação ao ano anterior, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Essa expansão é sustentada por uma combinação de demanda crescente, diversificação de mercados e, principalmente, infraestrutura logística.

“Dubai tornou-se um hub global, com conexões eficientes entre os modais marítimo, aéreo e terrestre, o que atrai empresas brasileiras interessadas em acessar outros mercados via Emirados”, afirma João Paulo Paixão, chefe da Dubai Chambers no Brasil.

A logística portuária tem se consolidado como peça-chave na ampliação desse comércio bilateral. Nesse contexto, o Porto de Santos, o maior da América Latina, destaca-se como um hub logístico estratégico para o escoamento de produtos brasileiros com destino ao Oriente Médio.

Conexão estratégica

O terminal DP World Santos, um dos mais modernos do país, reforça essa posição ao oferecer operações integradas de contêineres e granéis. Em 2024, Santos foi responsável por cerca de 23% do volume da corrente de comércio entre Brasil e EAU**, refletindo sua relevância para o fluxo de exportações nacionais.

A operação logística é complementada pela atuação da TCP – Terminal de Contêineres de Paranaguá, no Paraná, que movimentou em 2024 mais de 3,4 milhões de toneladas de carnes congeladas, sendo 9 mil contêineres destinados exclusivamente aos Emirados Árabes. A unidade responde por 40% dos embarques ao Oriente Médio entre os portos do Sul e Sudeste, consolidando sua posição estratégica no comércio exterior.

Chegada e redistribuição

Do outro lado do corredor logístico, Dubai se posiciona como o principal centro de distribuição para a região do Golfo, Sul da Ásia e Leste da África. O Porto de Jebel Ali, operado pela DP World, é o maior terminal portuário do Oriente Médio e abriga a Jebel Ali Free Zone (JAFZA), onde mais de 10 mil empresas atuam como facilitadoras de comércio e reexportação.

“Nossa infraestrutura integrada e presença em corredores comerciais emergentes aumentam a eficiência e reduzem custos logísticos”, afirma Sultan Ahmed bin Sulayem, CEO da DP World.

Outro player relevante na região é a Abu Dhabi Ports, holding que administra diversos terminais portuários e zonas industriais nos Emirados. Com foco em inovação, automação e sustentabilidade, a empresa tem expandido sua atuação global, buscando estreitar relações com mercados estratégicos como o Brasil.

A companhia opera o Khalifa Port, um dos portos mais modernos do mundo, com capacidade para movimentar 9 milhões de TEUs (contêineres de 20 pés) por ano, além de abrigar uma zona franca voltada à indústria e comércio internacional.

Para Ilson Hulle, diretor da Abu Dhabi Ports, o fortalecimento da parceria logística entre os dois países é uma prioridade. “Nosso objetivo é posicionar Abu Dhabi como uma porta de entrada eficiente para produtos brasileiros no Oriente Médio e além. Já iniciamos diálogos com operadores e autoridades brasileiras para desenvolver soluções logísticas mais integradas e sustentáveis”, afirma.

Desafio logístico e oportunidades futuras

Apesar dos avanços, a ausência de uma rota marítima direta entre Brasil e Emirados Árabes ainda representa um desafio logístico. Atualmente, a maioria das cargas passa por portos no Mar Mediterrâneo antes de chegar a Dubai, resultando em um tempo médio de trânsito de 35 dias.

“Com uma rota direta, esse tempo poderia cair pela metade, favorecendo produtos perecíveis e reduzindo custos”, destaca Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Dubai Chambers impulsiona a expansão do comércio bilateral entre Brasil e Emirados Árabes Unidos

João Paulo Paixão, representante-chefe da Dubai Chambers no Brasil, explica como a entidade tem sido um elo estratégico para empresas brasileiras que buscam expandir suas operações nos Emirados.

Em 2024, as exportações brasileiras para os Emirados Árabes Unidos atingiram US$ 4,5 bilhões, destacando o fortalecimento das relações comerciais entre os dois países. Nesse cenário, a Dubai Chambers desempenha um papel essencial ao facilitar a inserção de empresas brasileiras em um dos mercados mais dinâmicos do Oriente Médio, contribuindo para o crescimento bilateral. A Câmara oferece suporte estratégico para superar desafios logísticos e regulatórios que surgem no processo de internacionalização.

Com mais de 30 zonas francas especializadas, a Dubai Chambers orienta as empresas brasileiras a escolher a estrutura mais adequada ao seu setor, seja tecnologia, logística ou serviços financeiros. A entidade também oferece assessoria jurídica e apoio na adaptação das operações locais, garantindo que as empresas compreendam as especificidades do mercado dos Emirados. O trabalho da Câmara assegura que empresários brasileiros possam realizar uma entrada eficiente e sem surpresas nos Emirados, com um planejamento estratégico adequado.

As exportações brasileiras para os Emirados Árabes Unidos atingiram US$ 4,5 bilhões em 2024, refletindo o fortalecimento das relações comerciais entre as duas regiões. De que maneira a Dubai Chamber of Commerce tem contribuído diretamente para esse crescimento, especialmente no apoio às empresas brasileiras que buscam expandir suas operações nos Emirados?

O aumento das exportações brasileiras para os Emirados reflete um movimento estrutural de aproximação econômica, impulsionado por empresas que perceberam que Dubai não é apenas um destino final, mas um multiplicador de acesso internacional. A Dubai Chamber tem facilitado esse processo de aterrissagem estratégica.

Sua atuação se concentra em remover barreiras práticas e estratégicas enfrentadas pelas empresas na internacionalização de suas operações. Para empresas brasileiras, isso começa pela compreensão do ambiente regulatório local, onde mais de 30 zonas francas operam com regras distintas — algumas voltadas para tecnologia, como a Dubai Silicon Oasis; outras para logística, como a Dubai South; e outras para serviços financeiros, como o Dubai International Financial Centre, entre outras.

Ao contrário do que muitos empresários brasileiros imaginam, a escolha da zona franca impacta diretamente a capacidade de comercializar no mercado doméstico dos Emirados, acessar licitações governamentais e contratar mão de obra local.

Outro ponto de apoio relevante é a nossa atuação no front jurídico e institucional. Com a reestruturação do Dubai International Arbitration Centre, passamos a atuar como facilitadores no esclarecimento de cláusulas arbitrais e contratos de fornecimento, especialmente em setores como alimentos, tecnologia médica e materiais de construção. Isso proporciona mais previsibilidade às empresas brasileiras em suas negociações regionais.

Recentemente, temos acompanhado o crescente interesse de empresas brasileiras por acordos preferenciais firmados pelos Emirados, como os CEPAs com Índia, Indonésia, Geórgia, Turquia e Coreia do Sul. Empresas que se estabelecem em Dubai e atingem o mínimo de 40% de valor agregado local podem acessar esses mercados com tarifas reduzidas ou até zeradas — uma vantagem não disponível para empresas que exportam diretamente do Brasil para esses países. Em um cenário de tensões tarifárias crescentes nos EUA e na União Europeia, essa vantagem tem sido um argumento importante para empresas que buscam diversificar seus canais de exportação com maior margem e menor exposição a riscos.

Com a infraestrutura logística – incluindo portos, aeroportos e ferrovias – desempenhando um papel essencial no aumento do comércio bilateral, quais parcerias ou iniciativas a Dubai Chamber tem promovido para facilitar o acesso das empresas brasileiras a essas infraestruturas no Oriente Médio?

Dubai consolidou-se como uma das cidades com maior densidade logística integrada do mundo, conectando os modais aéreo, marítimo e terrestre em um raio de 80 quilômetros. Para empresas brasileiras, essa conectividade tem se mostrado especialmente útil na redistribuição rápida para regiões densamente povoadas que demandam alta rotatividade de estoque, como o Golfo, o Leste da África e o Sul da Ásia. O papel da Dubai Chamber tem sido direcionar os empresários brasileiros para os ecossistemas logísticos mais compatíveis com seus modelos de operação e produtos.

No segmento marítimo, o porto de Jebel Ali segue sendo o maior do Oriente Médio e figura entre os 10 mais movimentados globalmente, com capacidade anual superior a 19 milhões de TEUs. A zona franca adjacente – Jebel Ali Free Zone (JAFZA) – abriga mais de 10.700 empresas, sendo um hub natural para quem atua com distribuição de alimentos, commodities processadas e manufatura pesada. Já empresas com perfil de comércio digital ou produtos de alto valor agregado têm sido orientadas a considerar a Dubai CommerCity, o primeiro centro logístico da região 100% voltado para e-commerce B2B e B2C, com foco em last mile e cross-border.

Do ponto de vista aéreo, o Aeroporto Internacional de Dubai (DXB) e o Aeroporto Al Maktoum (DWC), este último localizado dentro do distrito logístico Dubai South, operam de forma integrada com zonas industriais e centros de distribuição. A Dubai Chamber tem feito a ponte entre empresas estrangeiras – incluindo brasileiras – e operadoras logísticas já estabelecidas nesses hubs, auxiliando, por exemplo, na estruturação de parcerias de fulfillment com operadores locais certificados pela Dubai Customs, o que reduz prazos de liberação e armazenagem.

Outra frente importante é o aconselhamento sobre custos logísticos ocultos. Muitos exportadores brasileiros chegam ao Golfo sem clareza sobre taxas portuárias, armazenagem mínima obrigatória ou exigências de documentação específica para despacho aduaneiro rápido. Nossa função tem sido antecipar essas questões, inclusive em colaboração com entidades como a Dubai Trade, permitindo que essas empresas cheguem com planos logísticos definidos antes mesmo da primeira remessa.

A Dubai Chamber tem sido um ponto de contato chave para a promoção de negócios bilaterais. Quais desafios específicos as empresas brasileiras enfrentam ao tentar entrar no mercado dos Emirados Árabes Unidos, e como a Câmara tem ajudado a superá-los, especialmente no que diz respeito à integração logística e tecnológica?

Dubai oferece um ambiente extremamente pró-negócios, com uma estrutura jurídica clara, impostos baixos e abertura total ao capital estrangeiro. Montar uma empresa é rápido: em algumas zonas francas, o processo leva menos de 48 horas, e não há exigência de sócio local para a maioria dos setores, inclusive na mainland. O que costuma dificultar a entrada das empresas brasileiras não é a burocracia, mas o desconhecimento sobre as alternativas estruturais e as exigências práticas de operação no país.

No setor bancário, embora o sistema dos Emirados seja um dos mais avançados da região, empresas recém-criadas podem enfrentar exigências de compliance mais rigorosas. Não é incomum que a abertura de conta leve várias semanas, especialmente para setores sensíveis ou para estruturas sem atividade operacional clara.

Na integração logística, o desafio está em lidar com custos que não estão no radar da maioria dos exportadores brasileiros: VAT de 5%, taxas alfandegárias, exigências específicas de rotulagem – por exemplo, idioma árabe obrigatório para alimentos e cosméticos – e inspeções sanitárias mais rígidas do que as do Mercosul. Temos fornecido orientação técnica, em conjunto com a Dubai Customs e operadores logísticos locais, para evitar atrasos e penalidades por não conformidade documental ou aduaneira.

No campo digital, o mercado dos Emirados opera com um altíssimo nível de integração – tanto nas plataformas governamentais quanto nas cadeias de suprimento privadas. Desde registros fiscais até sistemas de pagamento e emissão de certificados, tudo ocorre online e, em muitos casos, via API. Empresas brasileiras que chegam sem processos digitalizados ou com ERPs não integrados enfrentam gargalos operacionais que poderiam ser evitados. Trabalhamos com hubs como a Dubai Digital Authority e a in5 Tech para acelerar a adaptação das empresas estrangeiras a esse padrão.

A diversificação econômica dos Emirados Árabes Unidos tem criado novas oportunidades para investidores e exportadores estrangeiros. Como a Dubai Chamber tem incentivado a participação de empresas brasileiras em setores além das commodities tradicionais, como tecnologia, agronegócio de valor agregado e manufatura? Há iniciativas específicas para fortalecer essa diversificação?

Dubai tem deixado claro que o futuro econômico da região não será baseado apenas em petróleo, mas em conhecimento, inovação e industrialização de alto valor agregado. Essa virada estratégica abriu espaço para empresas brasileiras que atuam em setores como tecnologia, alimentos processados, agronegócio sustentável, saúde, manufatura e soluções urbanas — justamente os que têm maior potencial competitivo fora do eixo tradicional de exportações do Brasil.

Dubai conta hoje com mais de 30 zonas francas, muitas das quais são especializadas. O Dubai Silicon Oasis tem atraído empresas brasileiras de tecnologia e automação; a Dubai Internet City tem se mostrado promissora para fintechs, edtechs e healthtechs; a Dubai Science Park tem aberto portas para o setor farmacêutico e cosmético; enquanto a Dubai Design District (d3) começa a receber marcas brasileiras voltadas para arquitetura, mobiliário e moda.

Para ilustrar o movimento, empresas como a Embraer, que abriu escritório em Dubai para atender clientes da Ásia e Oriente Médio; a BRF, com sua fábrica de US$ 160 milhões em Abu Dhabi; a Tramontina, Marcopolo, Minerva Foods, O Boticário, Raízen, Portobello, Ambipar — todas já estão usando os Emirados como plataforma de acesso ou industrialização para outros mercados. Além da Apex-Brasil e Investe São Paulo, um parceiro importante que tem trabalhado conosco em Dubai no engajamento com essas e outras empresas brasileiras é o LIDE Emirates, além de consultorias locais associadas à Dubai Chamber, como o OnTime Group, que também tem escritório no Brasil.

Para as empresas que consideram se instalar em Dubai, além dos benefícios fiscais — como isenção de IRPJ em muitas zonas francas e ausência total de IRPF e de impostos sobre remissão de lucros e dividendos — há também a possibilidade de acessar os Acordos de Parceria Econômica (CEPAs) que os Emirados assinaram com a Índia, Indonésia, Turquia, Coreia do Sul e Geórgia. Se a empresa agrega pelo menos 40% de valor localmente, ela pode exportar com tarifas reduzidas.

Portanto, para quem está atento aos movimentos globais e quer proteger margens em um mundo que caminha para mais protecionismo, a diversificação com base em Dubai pode ser uma jogada estratégica.